Êra punk! Este material que foi escrito em 2010, direcionado ao movimento punk e a quem quer conhecer sobre o assunto. Em 2021 fiz a revisão e atualização do material, preservando as ideias essenciais, mas modificando trechos que não mais condizem com um pensamento em eterna evolução. Trata-se de um documento baseado na minha vivência dentro do movimento entre 2006 e 2010, mas que ainda se aplica aos anos posteriores. - Por Mao Punk
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
CAPÍTULO IV – MANIFESTAÇÕES E ORGANIZAÇÃO PRÉVIA
Os punks não vivem apenas de gigs, pelo menos ainda existem focos de militantes que se importam com a propagação da ideia e com a ação direta em seus diversos aspectos.
Sair nas ruas em passeatas e manifestações é outra característica dos punks. Infelizmente, parece que não são todos os punks interessados em construir algo através de protestos de rua e, em certos casos, muitos dos que comparecem a esses atos fazem questão de não respeitar o consenso, partindo para atos desnecessários e desconexos com a manifestação em si.
Lamentavelmente, isso se deve ao fato de que os próprios punks não estão se organizando como poderiam.
O movimento punk se engaja em diversas lutas sociais, como por exemplo nas jornadas em memória do dia 1º de maio de 1886, quando houve uma greve geral em Chicago por melhorias trabalhistas. Outro exemplo é a luta operária das mulheres do dia 8 de março de 1857, quando estas reivindicavam seus direitos nas fábricas e foram brutalmente assassinadas, trancadas dentro da fábrica e queimadas vivas. Podemos ainda citar o dia 7 de setembro, quando o Bra$il comemora a farsa da independência e xs manifestantes saem às ruas para alertar que ainda vivemos sobre influências tanto externas quanto internas, numa dependência que gera desigualdade social e guerras entre nações.
Tudo isso é de extrema importância para a emancipação social e para a construção de um mundo mais ameno e justo. Mas falta organização entre os punks para que se possa realmente construir coisas produtivas.
Citando o movimento da cidade de São Paulo, geralmente essas passeatas – mais especificamente nessas datas citadas acima – acontecem no centro da cidade. Muitas vezes, a concentração de manifestantes acontece espontaneamente, sem uma organização prévia de como seguir com a manifestação. Sabendo-se que nessas datas sempre há concentração de punks e anarquistas pelo centro, tornou-se praticamente um encontro anual/periódico de militantes, sem propostas de novas ideias e de novas ações. Alguns saem de casa nessas datas simplesmente porque sabem que irão encontrar outros punks/anarquistas pelo centro. Chegam ao local de concentração sem ao menos saber o que será feito durante a passeata.
Faltando embasamento e diálogo para realizar as passeatas, é comum que as ideias de cada militante entrem em divergências, o que significa uma manifestação disforme, já que durante a ação torna-se quase impossível entrar em um consenso entre todos os participantes.
É necessário um amplo diálogo entre os militantes, uma organização antes das passeatas, para que se decida em consenso a rota, as formas de propagação, os materiais etc. Dessa forma, as chances das manifestações saírem do controle dos militantes diminuem bastante.
Outra coisa importante a se observar é o tipo de ação direta que será empregada nesses atos. Nem sempre a depredação de estabelecimentos privados se torna válida. É importante manter um foco! Se estamos manifestando pela conscientização do voto nulo, por exemplo, não há um motivo que legitime o ataque destrutivo ao patrimônio estatal (a não ser que haja realmente um contexto para essa ação e esse contexto esteja dentro do consenso entre os manifestantes). Que fique claro, o que estou dizendo não é que não devemos atacar da forma que se fizer necessário, o Estado repressor e seus símbolos. Ele deve sim ser combatido, das formas que forem necessárias. No entanto, como militantes, devemos ter visão de quando é o momento para se agir radicalmente e quando devemos ter uma postura mais cautelosa, afinal, se queremos nos unir ao povo e apagar a imagem deturpada que a mídia farsante expõe sobre o punk, é necessário que tomemos cuidado com nossos atos, para que possamos atrair mais pessoas em nossa luta. Assim poderemos, juntos, acabar com as repressões sociais e caminharmos todos por um mesmo fim: a extinção da exploração e das desigualdades.
Como nós, punks, representamos a luta do povo de todos os cantos, de todos os lugares, é importante não realizar as passeatas e ações somente nos centros das cidades, como acontece geralmente em São Paulo. É necessário que aconteça, simultaneamente, passeatas em todos os cantos da cidade, no centro, no subúrbio, nas periferias, principalmente em zonas carentes de informação. Não só passeatas, mas panfletagens, colagens de lambe-lambes (cartazes), distribuição de fanzines (informativos independentes), debates, eventos direcionados à comunidade, etc. Se a luta ficar apenas concentrada no centro ou apenas em um único ponto da cidade, então nós como militantes não estaremos fazendo nosso papel, que é passar informações e conscientização para todos os cantos e para quantas pessoas for possível.
Outra coisa importante para se dizer a respeito das ações, é que elas não podem acontecer apenas em datas óbvias. A luta é diária e a organização também deve ser! É necessário ação todos os dias, propor novas manifestações e eventos sempre que possível, difundindo assim o ideal libertário.
Ampliemos nosso campo de ação, organizemos com antecedência nossas passeatas, respeitemos o consenso e parceiros de luta, sejamos cautelosos nas manifestações e assim iremos conquistar grandes vitórias.
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