segunda-feira, 9 de agosto de 2010

CAPÍTULO VI – SOBRE CENTRALIZAÇÃO E SECTARISMO

Eis um ponto muito discutido e ainda assim muito delicado no movimento punk.
O punk é uma alternativa, é uma expressão contra os padrões impostos (sim, é sempre necessário lembrar isso, já que algumas pessoas ainda não entenderam o real intuito do punk) e, sendo uma alternativa, obviamente não é a única forma de expressão aceitável e cabível.

Alguns “punks” pensam que a rebeldia direcionada e a contraposição do sistema é exclusividade do movimento punk. Algo muito estúpido de se pensar e uma forma muito ignorante de agir, já que temos conhecimentos de diversos movimentos e culturas que confrontam as opressões, como por exemplo o hip-hop, coletivos artísticos, pessoas autônomas idealistas etc.

Falando mais da cena punk, as divergências entre pensamentos a respeito da forma de agir, de campos de atuação, entre outras diferenças, acabaram criando segmentos dentro do próprio movimento punk. Isso contribuiu, em certo aspecto, para a dissolução da união entre os militantes.

Se o punk, em sua essência, é libertário, antifascista, contracultural e solidário, temos que saber aproveitar as diferenças individuais de cada punk para que possamos agir cada um em seu campo de atuação, aumentando efetivamente a presença de um movimento libertário em tantos e tantos campos sociais.

Criticar um punk porque este não é violento, ou porque é mais ligado à arte, ou então porque escuta outros tipos de som, ou por qualquer outro motivo parecido é a mesma coisa que virar a cara para o povo. Criticar tais atitudes é impedir que o movimento libertário se expanda para outras culturas próximas de nós. Criticar tais atitudes é virar a cara para um mundo multicultural e solidário. O punk, afinal, não preza por um mundo onde caibam diversos mundos? Então foquemos nisso!

Então não devemos centralizar a contracultura. Por centralizar, devemos entender “monopolizar as formas de ação”, afinal, não é só de uma ação que é feita a luta do punk! O punk está presente tanto na contracultura quanto em nós como pessoas, cada um com suas diferenças, cada um com seus gostos e lazeres, com seus ativismos e seus “rolês” (que podem ser gigs, bares, museus, parques ou qualquer coisa que se possa fazer).

O conhecimento de que existem outras culturas e outras formas de pensar ajudam não só o movimento punk e libertário, mas também a sociedade como um todo.

E tão importante quanto a percepção de tais diferenças na sociedade, é a ciência de que dentro do movimento punk existe muito preconceito entre os próprios punks.
Todos os punks – punks em essência, ideia, mente e coração – são antifascistas, contra todo tipo de preconceito, seja racial, de gênero, sexual etc. Então porque criticar companheiros da própria luta?

Quando o punk abarca em seu ideal as propostas libertárias e anarquistas, a intenção é produzir coisas em prol de todos. Mas parece que muitos punks não entenderam isso e fazem do anarquismo uma guerra ideológica contra libertários com pensamentos diferentes!

Punks independentes, punks do subúrbio, anarcopunks, punks straight-edges libertários, todos são punks! Todos são antifascistas! Todos estão na mesma luta! Não há nada mais ridículo do que tretas entre esses punks, sendo que todos fazem parte do mesmo movimento, da mesma ideia, da mesma vontade de melhorar a sociedade! Novamente torno a falar: existem diferenças apenas no modo de agir, mas a intenção é a mesma! Então para que censurar (censura é algo um tanto repressor para ser visto dentro do movimento punk, vocês não acham?) o companheiro que está travando sua batalha em um campo distinto? Pense bem: se você age num campo e outro punk age em outro campo, isso significa que o movimento punk está marcando presença em vários campos diferentes! Então, vamos parar com essa ideia de que “tal punk” não presta, que “punk fulano” não age onde deveria etc.

Se cada punk estiver produzindo, seguindo a luta libertária, sem caminhar rumo ao fascismo, então devemos todos nos solidarizar!

E mais uma coisa: “punks” que andam com carecas e skinheads fascistas, “punks” que se dizem apolíticos e só pensam em rolê, “punks” que acham que ser punk é sair por aí e brigar com qualquer um porque brigar é uma “puta atitude”, “punks” que acham que basta vestir uma roupa chocante e conhecer o maior número de bandas, esses “punks” não passam de fascistóides idiotas, ignorantes que nunca estiveram dispostos a evoluir e fortalecer o movimento.

Os punks sempre estarão se posicionando contra as injustiças. CONTRA AS INJUSTIÇAS, não contra os próprios punks.

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